domingo, 12 de junho de 2011

Para uma Menina com uma Flor (Vinícius de Morais)

    Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, o que, aliás, você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.

   E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras.

    E porque você sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano, e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre um nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, parecendo uma santa moderna, e anda lento, e fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der uma paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.

     E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta e não concorda porque ele é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas. E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara-na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando.
     
        E  porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.

        E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você, se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse cantando sem voz aquele pedaço que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.

          E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos - eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfrentando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações - porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor.

* Na minha opinião, o poema mais doce, delicado e perfeitinho que já li até hoje!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Poeminha pra você dormir

*Para ouvir enquanto lê: http://www.youtube.com/watch?v=LyJYIOPNkww&feature=related

Boa noite, meu bem.
Falo assim, baixinho, pra você não acordar.
Gosto de imaginar você, assim, quietinho, ventinho no cabelo e só seu respirar.

Vou alí buscar estrelas, pendurá-la nos teus olhos, pra quando você acordar, vê-las brilhar.
Vou pegar umas tintas pra colorir teus sonhos, pra te fazer sonhar azul, azulzinho.

Coisa bonita é você, meu bem, a descansar.
É como ver um arco-íris terminar no mar.

Quisera eu, meu bem, poder te falar,
não mais só imaginar...


domingo, 5 de junho de 2011

De quem é a culpa?

      

      A gente culpa o despertador quando acorda atrasada. Culpa a falta de tempo pra fazer academia pelos quilinhos a mais. Culpa o trânsito pelo stress diário. Culpa os céus pelo dia chuvoso. Culpa o chefe pelas cobranças sem fim. Culpa a indiferença do patrão pelo aumento do salário que nunca vem. Culpa a irresponsabilidade do professor pela nota baixa. Culpa a vida estressante pela doença que apareceu. Culpa o carinha que não nos ama pela indiferença com que nos trata. Culpa a amiga de não ser tão presente como deveria. 
     
      Sem perceber, a gente começa a desenvolver o hábito de sempre culpar alguém por algo e esquecemos que muitas dessas coisas dizem respeito às nossas atitudes que desencadeiam uma série de consequências. Nossa lista de cobranças começa a crescer, crescer e quando menos se espera nos tornamos refém de um sentimento mesquinho demais pra ser levado adiante.

      Demorou um pouco até a ficha cair e eu perceber que nem sempre a culpa por algumas coisas não acontecerem é do outro. Cabe a nós a responsabilidade pelas nossas vidas e por compreender que o tempo do outro pode não ser o nosso.

      Alguém não te ligar quando você esperava pode indicar indiferença, falta de consideração, mas também pode ser apenas o fato de que o outro não tem crédito no telefone, ou prefere te retornar em outro momento, quando vocês poderão conversar mais à vontade. Muitas vezes o silêncio pode indicar que aquela situação não é pra rolar e quando duas pessoas não estão na mesma vibe(sou uma pessoa atualizada tá?) não vale a pena levar adiante. Alguns interpretam o silêncio como um sinal vermelho. Na minhas experiências, alguns silêncios indicaram um enorme sinal verde de siga adiante, mas por outro caminho, pois esse não dá mais.

     Os quillinhos a mais ou a pressão alta podem ser indícios de que é tempo de dar uma desacelerada, diminuir o sal, trocar o refri por um suco. O dia chuvoso pode ser uma boa desculpa pra usar aquela blusa que a gente nunca usa pois mora em um lugar quente, ou de usar meias pra dormir, tomar um cafezinho com leite ou até ficar mais quieta, ouvindo mais o coração.

    Quanta coisa boa a gente descobre quando para de culpar os outros, as situações e a nós mesmas! Descobre que ninguém precisa ser perfeito, nem nós, e isso traz uma maravilhosa sensação de liberdade de que se alguém está perto de nós é porque quer estar e que não precisamos acertar sempre, nem exigir que os outros o façam.

    Quando a gente deixa a culpa de lado, o amor próprio cresce feito plantinha regada, e cresce feliz, com espaço pra se esparramar, pois nada nos prende, nem pesa.

    Aprendamos, então, a desenvolver uma vida e relacionamentos onde pedidos de desculpa não precisem ser feitos a cada 05 minutos, pois lá dentro de nós existe a tranquilidade de saber que algumas coisas simplesmente precisam acontecer, outras dependem de nós para mudar e o que DE FATO, VALE A PENA, SIMPLESMENTE PERMANECE, pelo tempo que tiver de ser!